segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A INCLUSÃO DE CRIANÇA COM SINDROME DE DOWN NA ESCOLA REGULAR


*Daiane dos Santos


INTRODUÇÃO                            

Hoje temos nas escolas a presença de crianças especiais. Essa inclusão não ocorreu da noite para o dia, mas é o resultado de uma luta de muitos e muitos anos.
Dentre os vários tipos de crianças especiais, vamos abordar neste trabalho aquela que é portadora da Síndrome de Down (SD).  Pretendemos identificar as dificuldades que o professor encontra ao trabalhar com o aluno SD e mostrar que é possível sim haver a inclusão.
A criança com SD é muito comum se ver nos bairros, mas não em escolas de ensino regular, porque elas frequentam apenas a “escola especial” ou a APAE. Com a LDB 9394/96 e a Declaração de Salamanca, essas  crianças (como aquelas com qualquer outra deficiência) ganharam o direito de frequentar o ensino regular. Mas o professor nesse novo contexto como fica? Ele que nunca trabalhou com o diferente, apenas com o igual, com o homogêneo. A partir de então, fica claro que cabe ao professor ajustar-se, tornar-se um pesquisador, para conseguir vencer este novo desafio, que é ser o mediador do conhecimento tanto para os alunos “normais”, como para os com Síndrome de Down.
A escola e o professor atualmente têm um grande desafio que é trabalhar com a criança SD, e o professor precisa zelar pelo desenvolvimento social de todos. Isso vai desde os alunos considerados “normais” aprenderem a conviver com a criança SD e esta,  por sua vez,  aprender a conviver com os “normais”. O professor precisará suprir a necessidade de aprendizagem da criança SD, mas sempre respeitando suas limitações e como ele irá trabalhar com todos os alunos.

1. BREVE HISTÓRICO DA SÍNDROME DE DOWN
1.1 A causa clinica.

Acredita-se que exista evidencia de crianças com SD representada na arte antiga, mas foi no século XIX que aconteceu a primeira descrição médica.
Foi o médico John Langdon Down (a Síndrome de Down tem esse nome em homenagem a ele) que descreveu em 1862 a síndrome. Baseando-se  nas “teorias racistas da época, ele atribui a causa a uma degeneração.”  Down acreditava que a causa da síndrome era a tuberculose dos pais. Aconselhava que as pessoas com a síndrome deveriam ser treinadas,  e a resposta ao treinamento era positiva. Muitos pais recebiam a recomendação de entregar seus filhos com síndrome a instituições, que cuidariam delas para sempre.
Até  1961, as crianças com a síndrome eram chamadas de mongoloides, porém essa expressão ganhou um sentido ofensivo e pejorativo e foi banida do meio cientifico. Em 1959,  o medico Jerône Lejeune descobriu que a verdadeira causa da Síndrome de Down é genética.

1.2 O que é Síndrome de Down?

Síndrome de Down é um distúrbio genético causado pela presença de um cromossomo 21 extra, total ou parcialmente.  Isto é, a criança nasce com um cromossomo a mais, ela tem três cromossomos 21, ao invés de dois (como as crianças que não têm a síndrome). Essa trissomia pode ser dos tipos seguintes:
a. Trissomia homogênea ou simples: Na trissomia homogênea, a falha distributiva cromossomática está presente antes da fertilização.  Ocorre durante o desenvolvimento do óvulo ou do espermatozoide, ou ainda na primeira divisão celular, sendo todas as células idênticas, possuindo 47 cromossomos em vez de 46.
b. Trissomia em mosaico:             Ocorre uma duplicação cromossomática nas segunda ou terceira divisões celulares, ou seja, em cada célula existem dois cromossomos, permanecendo uma das células com três cromossomos e a outra apenas com um. O embrião forma-se com uma alteração genética que danifica somente parte da célula. As consequências causadas são tão mais graves quanto mais cedo ocorre à divisão defeituosa. A criança terá no par 21 células normais e trissômicas.
c. Trissomia por translocação:      O portador de translocação tem uma quantidade de genes normal. Mas, apesar do indivíduo possuir os habituais 46 cromossomos, a sua estrutura cromossomática não é a correta, ou seja, parte de um cromossomo está unido à totalidade de um outro, sendo os mais afetados os grupos 13-15 e 21-22.

1.3 Algumas características presentes na criança com Síndrome de Down.
ü  comprometimento intelectual;
ü  achatamento da parte de trás da cabeça;
ü  pele na nuca em excesso;
ü  inclinação das fendas palpebrais;
ü  pequenas dobras de pele no canto interno dos olhos;
ü  língua proeminente;
ü  ponte nasal achatada
ü  boca pequena;
ü  orelhas menores;
ü  mãos e pés pequenos;
ü  baixa estatura corporal;
ü hipotonia muscular generalizada;
ü cabelo liso e fino;
ü aumento de vascularização retiniana
ü defeitos cardíacos.

2 INCLUSÃO OU INTEGRAÇÃO DA CRIANÇA SÍNDROME DE DOWN NA ESCOLA?

Para muitas pessoas, incluir ou integrar é a mesma coisa, mas, na realidade, são ações muito diferentes.
Integrar é: estabelecer normas comuns de vida e aprendizagem entre pessoas. É esperar que o aluno com SD chegue à escola e se adapte a tudo que já existe no ambiente; aprenda como as outras crianças, sem haver qualquer tipo de adaptação.
Incluir é facilitar a convivência saudável entre as pessoas, é permitir que o outro exerça sua cidadania sem ser rotulado.  Para Sá (apud NASCIMENTO, 2009, p. 13),

“inclusão é perceber que todos somos diferentes e é muito mais que respeito ás diferenças é uma questão de cidadania, é buscar um mundo social inspirado na diversidade...” O ato de incluir é o professor, a escola rever práticas, conteúdos e material especifico para que o aluno SD possa ter condições de participar da aula “dentro de suas limitações e potencialidades”.

Incluir é preparar-se para receber o aluno SD. É uma satisfação poder trabalhar e incluir um aluno especial, porque isso nos torna mais cidadãos e humanos.
Inclusão é, pois,  a capacidade de entender e reconhecer o outro, é ter o privilégio de conviver e compartilhar experiências boas ou ruins, é saber que todos nós somos diferentes, e é isso que nos torna especiais.
Temos que levar em consideração que a escola é o melhor lugar para o aluno SD sentir-se parte da sociedade e capaz.

2.1 A escola regular e seu compromisso com o aluno SD.

A escola regular tem um grande dever; esse dever é para com todos os educandos. Porque é na escola que os conhecimentos dos alunos são valorizados e estimulados para se tornarem conhecimentos científicos.
Tanto os alunos como os professores têm objetivos que precisam ser alcançados. Assim é na escola regular que se começa o pensamento critico.
É evidente que a missão da escola é de proporcionar um “bom” convívio social com todos os alunos. O conhecimento na escola é revestido de valores éticos, estéticos e políticos com os  quais os educandos precisam se identificar.
É na escola que tudo começa; isso vai desde um abraço até uma briga. É na instituição de ensino que muitos alunos terão seu primeiro contato com a sociedade, que é muito diferente do aconchego da sua casa, porque existem pessoas diferentes dos pais, irmão, tios, primos e avós. É na escola que o educando começa a ver o mundo de uma forma diferente. Claro que isso só acontecesse quando a escola se empenha em proporcionar experiências para os alunos.
E quando o aluno é diferente?
Aí que mora o perigo, porque as pessoas acham que a criança SD não entende ou não tem noção do que acontece a sua volta Essas pessoas estão enganadas. Porque às vezes a criança não fala, ou tem dificuldade de se expressar, mas isso não significa que ela não entenda o que está ocorrendo..
O aluno com SD tem o direito de vivenciar todas as experiências possíveis que a escola pode proporcionar.
Além disso, a instituição de ensino tem que ensinar os alunos a compartilharem os conhecimentos, emoções e trocarem ideias. O mais importante reconhecer o outro como ser humano, respeitando-o.
Segundo o Ministério da Educação, em seu livro Educação Inclusiva (2005, p. 27),  “A escola comum tem um compromisso primordial e insubstituível: introduzir o aluno no mundo social, cultural e cientifico; e todo ser humano incondicionalmente tem direito a essa introdução.”

2.2 Adaptações Curriculares

Primeiramente, antes de falarmos sobre adaptações curriculares, é importante sabermos o que é currículo?
E segundo o Dicionário de Pedagogia, de Ramiro Marques,

Currículo - Pode ser considerado um plano de estudos de um Curso. Pode, também, designar um conjunto de programas de ensino. Contudo, mais recentemente, a noção de currículo passou a designar o conjunto das aprendizagens propostas e realizadas, tendo em vista alcançar as finalidades de um Curso ou de um plano de formação.

            Em outras palavras, o currículo é o projeto que determina os objetivos da educação escolar e que propõe um plano de ação adequado para a realidade em que a escola está inserida. É claro que deve ser flexível, para que possa adaptar-se à necessidade de seu público-alvo.
            Dessa forma, adaptação curricular são estratégias educativas para facilitar o processo de ensino-aprendizagem de crianças com necessidades educativas especiais (no nosso caso, o aluno com SD). Assim, fica claro que é o corpo docente que pode e deve modificar. Devem também ser alvo de transformações o currículo escolar e os planos de aula, pois só assim será possível acontecer de fato à inclusão. A adaptação curricular se faz necessária, porque é através dela que nos tornaremos capazes de trabalhar com as diferenças.

2.3 O professor está preparado para a inclusão?

Existem muitos professores que têm medo e insegurança em trabalhar com o diferente, porque há muitos anos sempre  trabalhou com alunos ”normais”. E agora? Como trabalhar? O que fazer? Será que vai dar certo?
O medo é natural, porque é algo novo, mas os educadores não podem deixar levar-se por causa do medo. Pelo ao contrario, é hora de partir para cima. É o momento de se tornar pesquisador, buscar informações sobre a SD, observar portador dessa deficiência, porque é o educador que vai auxiliá-lo nas atividades de sala de aula, no intervalo etc.
Muitos professores não se sentem capazes de trabalhar com o aluno SD, mas o que é mais importante, em principio, é que o aluno SD deve ser tratado da forma mais normal possível. Isto é, igual aos outros no tratamento cotidiano, nas broncas, nas responsabilidades com as tarefas e consequências de seus atos; mas, claro, sempre respeitando suas limitações. E se for possível, trabalhar diretamente com o aluno SD, ou seja, sem o auxílio de outra pessoa, uma vez que o trabalho direto, parece-me, facilita o processo. Cabe ao professor decidir quando o aluno SD deve desenvolver alguma atividade sozinha ou em grupo. O professor deve dar importância ao desenvolvimento, considerando::
ü  o equilíbrio;
ü  coordenação dos movimentos;
ü  a estruturação do esquema corporal;
ü  orientação espacial;
ü  a sensibilidade;
ü  hábitos posturais.
Neste momento de inclusão, o professor é muito importante, porque ninguém é maior que o professor neste processo, nem tampouco mais importante, pois a inclusão só acontecerá efetivamente se o professor assim o fizera.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Estamos vivendo em um grande momento; para alguns educadores, horrível, para outros, a oportunidade de poder minimizar o preconceito existente nessa sociedade tão egoísta. Cabe à educação cumprir seu papel em relação a tornar “aqueles pequeninos” cidadãos capazes de dar opinião e, acima de tudo, mais humanos. É na escola  que o aluno SD aprenderá a ser um cidadão.
Tudo no inicio é difícil, mas temos, como educadores, de driblar todos os obstáculos. trabalhar juntos, para conseguir colocar em prática o que a Declaração de Salamanca (p. 5) diz: “O principio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter.”
Dessa forma, faz-se necessário que todos os atores da educação deixem de lado o  preconceito, o medo ou a arrogância, para que se possa trabalhar, vestir a camisa, lançar sementes de amor e respeito ao próximo e lutar para que, num futuro não tão distante,  possamos ver que valeu apena. Independente de erros ou acertos, a escola é a única entidade capaz de incluir qualquer ser humano, seja ele considerado normal ou não, na sociedade.

 REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto/Secretaria de Educação Especial.  Educação inclusiva: atendimento educacional especializado para deficiente mental. Brasília: MEC/SEESP, 2005.
MARQUES, Ramiro. Dicionário de Pedagogia. Disponível em: www.pedagogiaaopedaletra.com. Acesso em: 7/9/2012
NASCIMENTO, Marcia M. do. Inclusão social: primeiros passos. Arujá. SP : Giracor, 2009
SÍNDROME de Down. Disponível em www.pt.m .wikipedia.org/wiki/. Acesso em: 27/11/2011.
UNESCO. Declaração de Salamanca e enquadramento de ação: necessidades educativas especiais.  Salamanca, Espanha: Unesco, 1994.


* Daiane dos Santos é aluna do Curso de Pedagogia da Faculdade de Arujá – FAR – e estagiária da Prefeitura de Santa Isabel.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

CONSIDERAÇÕES SOBRE CONVERSAR

Sirley José Mendes da Silva *

“Nada melhor que uma boa conversa”. Esta é uma frase que, amiúde, ouvimos nas mais diversas situações. Mas o que é uma conversa? Qual a sua importância real no contexto de nosso cotidiano, de nossas existências?
Conversar é realmente muito bom. Aprendemos - e muito - quando conversamos com pessoas experientes, que, como dizia um antigo locutor esportivo, “têm garrafa vazia pra vender”. Conversar é, na verdade, uma necessidade premente; é passar experiências. É ensinar e aprender.
Por mais pleno que seja o nosso lado interior, há nele sempre um lugarzinho a preencher-se. É conversando que passamos para o nosso interlocutor aquilo que sabemos e recebemos dele aquilo que ele sabe. E, assim, preenchemos um pouco mais as lacunas internas de quem conversa conosco e temos também as nossas próprias lacunas internas preenchidas.
Mas, sem que eu queira ser pedante, permitam-me, caro leitor e cara leitora, discutir o étimo do verbo conversar. Este verbo vem do latim conversare e significa falar, discorrer, palestrar. Contudo, a gente sempre fala, discorre ou palestra levando-se em conta um processo comunicativo que tem na outra ponta uma ou várias pessoas.
Para facilitar a minha exposição, vou usar aqui dois termos utilizados pela Linguística moderna: enunciador e enunciatário. Enunciador é aquele que fala e enunciatário, aquele que ouve o que está sendo falado. Acontece que, em todo processo comunicativo autêntico, democrático, os papéis de enunciador e enunciatário são intercambiáveis, isto é, podem ser trocados. Quem faz a vez de enunciador num dado instante pode tornar-se enunciatário no instante seguinte; e quem é enunciatário assume, então, o papel de enunciador.
            Agora considerando a etimologia do verbo conversar e considerando tratar-se de um processo de mão dupla, isso me faz pensar numa outra interpretação, esta bem imaginativa, diga-se de passagem. Mas antes deixem-me explicitar alguns pontos que me possibilitam imaginar tal interpretação.
Explicando o funcionamento da linguagem verbal, o genebrino Ferdinand de Saussure afirma que existem dois modos de relações sob os quais se lastreia o funcionamento da língua: as relações sintagmáticas e as relações associativas. As relações sintagmáticas são baseadas no caráter linear da linguagem, que exclui a possibilidade de pronunciarem-se dois elementos verbais ou duas palavras ao mesmo tempo. Esses elementos ou essas palavras só podem pronunciar-se numa sucessão temporal. As relações associativas são de caráter mental: a mente faz aproximar termos que apresentam algum aspecto comum, capta alguma relação que pode unir esses termos.
As relações sintagmáticas e as relações associativas de Ferdinand de Saussure correspondem aos dois modos de arranjos de que nos fala o linguista russo Roman Jakobson: a combinação ou eixo sintagmático e a seleção ou eixo paradigmático. Na combinação, os termos apresentam-se solidários, numa sequência linear, constituindo um contexto; e este, por sua vez, é indispensável para a passagem de uma unidade mais simples para uma mais complexa. Na seleção, o enunciador pode escolher, dentro de um rol de termos iguais no aspecto conceitual, mas diferentes no aspecto material, aquele que considera melhor para a formulação de sua mensagem.
            E então vamos a um exemplo. Suponhamos que eu queira formular uma frase simples, de três palavras apenas. Para levar a cabo esse mister, tenho a meu dispor: a) para a posição do sujeito, garoto, jovem e rapaz; para a posição do verbo, comprou e adquiriu; c) para a posição do complemento verbal, carro e automóvel. Quando eu estiver escolhendo entre esses termos aquele  que usarei para preencher cada posição, estarei operando no eixo paradigmático. Feita a escolha e organizada a frase – assim: O rapaz comprou o carro –, então, a operação se deu no eixo sintagmático.
            Então podemos afirmar que, ao falarmos ou escrevermos, ou seja, ao formularmos nossas mensagens, fazemos – mesmo que não tenhamos consciência disso – seleção e combinação de palavras, operamos nos dois eixos: no paradigmático e no sintagmático.
            Mas o que tem tudo isso com o verbo conversar?  Vou explicar já, já.  É que embalado pelas relações associativas de Saussure e pelo eixo paradigmático de Jakobson, penso no verbo conversar dividido em duas partes: com, preposição que vem da forma latina cum e que expressa companhia, solidariedade, e versar,  do latim versum, que significa volta, o outro lado.
            E daí é que, pensando no verbo conversar como acabo de expor, podemos formular a seguinte significação: conversar é voltar, alcançar o outro lado solidariamente, em companhia de alguém, com a ajuda de outra pessoa e nunca isoladamente.
            Pensando assim, ao conversar, passamos – e aqui retomo o início destas linhas - para o nosso interlocutor aquilo que sabemos e recebemos dele aquilo que ele sabe. Ou seja, preenchemos um pouco mais o vazio interno de quem conversa conosco e, ao mesmo tempo, temos também o nosso próprio vazio interno preenchido.
            E para fechar estas considerações, prezado leitor e prezada leitora – permitam-me um trocadilho: “Conversar é, realmente, um barato; e não custa caro”.


* Sirley José Mendes da Silva é mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, doutor em Letras pela USP e professor da FAR

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

OS VALORES MORAIS E ÉTICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Lilian Fernandes Negreiros *

1. PALAVRAS INICIAIS
Trabalhar valores éticos e morais na Educação Infantil é, indubitavelmente, de suma importância, uma vez que  a infância é  o alicerce da vida e o adulto é produto daquilo que vivencia e  aprende, também, nos seus primeiros anos de escola.
Embora isso soe como inconteste, só veio aclarar-se, para mim, em decorrência das observações diárias durante o estágio que fiz em uma de nossas EMEIs. Nessa escola, constatei que havia, entre  alunos conflitos de espécies várias: agressões verbais e físicas, desrespeito para com os colegas e para com os próprios educadores, etc. Os professores, por sua vez, não faziam as intervenções de maneira correta, levando os alunos a comportamentos inadequados.
Diante de tal situação, tornei-me, num primeiro momento, indignada. Mas depois passei a pensar numa solução para o problema, numa maneira de mudar aquele quadro que tomava conta do cotidiano daquela escola e, parece-me, de outras instituições similares.
Como agir para debelar o mal?  Observei que valores como: moral, ética, cooperação, honestidade, solidariedade, gentileza, respeito, entre outros – valores os quais são fundamentais para a convivência social  - não eram trabalhados com aqueles alunos. Isso me levou a pensar num projeto -  “O resgate de valores humanos”  - e aplicá-lo aos educandos da EMEI em que eu estagiava.
A minha ação justifica-se tendo em vista que o desenvolvimento comportamental tem início na infância. Por isso, faz-se necessário um  trabalho docente que enfatize a construção de valores morais e éticos nos degraus iniciais da escada educacional. Atualmente, estamos passando por uma crise de valores, em que as pessoas  se mostram frias e alheias às necessidades de seus semelhantes. Tal crise faz-nos repensar o tipo de cidadão que estamos formando;  faz-nos pensar se estamos dando a devida importância à formação integral do educando ou se estamos preocupados apenas  com a construção de conhecimentos prático-utilitários.
Há necessidade de revermos a prática docente dos profissionais de Educação Infantil, pelo fato de nos encontrarmos num momento de desestabilização dos valores humanos, valores estes sem os quais é impossível viver bem em sociedade. A escola está mais preocupada em ensinar o abc para seus alunos. Embora isso se faça necessário, é preciso, contudo, que a instituição escolar se preocupe também com aspectos de caráter humano e social, que trate seu aluno como um ser integral.
É preciso que nossas escolas ensinem valores humanos, como cortesia, compaixão, generosidade, doçura, lealdade, respeito, etc. A ausência desses valores acarreta indisciplina e falta de educação. La Taille (1998) afirma que “(...) Se as escolas não têm educação moral e ética no seu currículo diário, ela - a escola - não deve reclamar da indisciplina de seus alunos (...)”
Os profissionais de Educação Infantil devem se preocupar com a formação integral de seus alunos, não somente com o desenvolvimento cognitivo e intelectual, pois é na faixa etária que vai dos 3 aos 6 anos que as crianças começam a construir sua identidade. Então é fundamental a abordagem de assuntos relacionados aos valores humanos, para a construção de indivíduos mais “humanos” e, consequentemente, uma sociedade mais justa.
Segundo Rios (2003, p. 40), os saberes necessários para o convívio e a inserção de maneira agradável na sociedade se dão através de saberes adquiridos na escola. Afirma a autora que  
(...) A instituição escolar tem como função especifica a influência do ensinar e, à medida que se destina a ensinar, a convencer os sujeitos, transmitindo-lhes os saberes necessários para direcionar sua inserção na sociedade.



2.  POR QUE ENFATIZAR OS VALORES MORAIS E ÉTICOS A PARTIR DA EDUCAÇÃO INFANTIL?
Antes de responder essa questão, conceituarei os termos Moral, Ética e Educação Infantil.
Segundo La Taille (1998), Moral é o conjunto de deveres derivados da necessidade de respeitar as pessoas, nos seus direitos e na sua dignidade. Ética é a reflexão sobre a felicidade e sua busca, a procura de uma vida significativa, uma “boa vida”.
Segundo a LDB 9394/96, no artigo 29, Educação Infantil é a primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até cinco anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.
Seguindo preceitos da LDB 9394/96, é atribuição dos profissionais de Educação Infantil trabalhar o aluno como um todo - e não como um ser fragmentado -  em parceria com a família.  Todavia, em nossa realidade, essa parceria acaba dificultada, uma vez que o aluno passa a maior parte do tempo na escola. Então, cabe à instituição escolar suprir essa carência.
O fato de nascermos não nos torna um cidadão. A construção do cidadão e da cidadania se dá se maneira paulatina. Nosso primeiro contato é o familiar, quando, geralmente, alguns ensinamentos nos são passados. Posteriormente, o individuo é inserido em um ambiente novo – a escola - ,onde encontra  outros indivíduos, com opiniões e vontades diferentes. Dessa forma, a escola não deve se prender somente à construção do conhecimento de conteúdos, e sim levar o aluno à reflexão e a descoberta de valores que são necessários à vida humana. Essa preocupação em formar um aluno provido de valores humanos não se restringe à atualidade. Comenius (apud Liberal, 2002, p.145)  afirmava que o papel da escola era:

Formar homens sábios na mente, prudentes nas ações e piedosos no coração; apoiada nos pilares da inteligência, memória e vontade, a formação dos homens deve abarcar, particularmente no trato com a juventude, a instrução, a virtude e a piedade

            A escola de Educação Infantil tem de centrar seu trabalho no desenvolvimento da autonomia de seus alunos; o educador tem de intervir e explicar, de modo claro e objetivo, as normas e os princípios que balizam as relações sociais e não somente falar sobre o que deve – ou não deve - ser feito            Segundo La Taille (op.cit.), os valores morais e éticos que norteiam o comportamento do  indivíduo precisam ficar claros, não podem ser confusos ou inexistentes. Através dos valores adquiridos na infância é que se forma um individuo atuante e produtivo para a sociedade.
            A importância de trabalharmos valores humanos a partir da Educação Infantil é projetar uma sociedade mais justa e igualitária, sem grandes conflitos. O trabalho com valores humanos não se dá por força e nem por violência e sim através da ludicidade, rodas de conversas diárias, e em todos os momentos em que forem necessárias as intervenções do educador.

3. O EDUCADOR E A FORMAÇÃO INTEGRAL DO ALUNO

            Iniciamos esta seção indagando-nos sobre algumas questões bem pertinentes. O que estamos fazendo com a infância de nossos alunos, que estão se tornando adultos mal educados?  Que tipo de contribuição estamos oferecendo para a construção do mundo de valores dos nossos alunos?  De quem é a culpa de a nossa sociedade estar cada dia mais violenta e cruel?
            Para respondermos a essas questões, recorremos a Rios (2003, p. 37), que afirma que: “... a escola seria o melhor dos remédios contra os males da sociedade...” A autora acredita que, se tivermos uma escola boa, alcançaremos, consequentemente, a sociedade desejada, ou seja, uma sociedade mais humana.
            Queiramos ou não, a escola intervém nos rumos da sociedade, e é também continuamente influenciada pelo que ocorre fora dos limites escolares, pois a escola é o  reflexo da sociedade. De acordo Rios (id., ibid.) a escola:

(...) está sempre posicionada no âmbito da correlação de forças da sociedade em que se insere e, portanto, está sempre servindo às forças que lutam para perpetuar e/ou transformar a sociedade.

             
            Como já foi dito, a função do educador ultrapassa os limites da mera transmissão de conhecimentos; deve esse profissional considerar o educando como um ser humano em toda a sua plenitude. Deve estar atento a cada etapa do processo educacional para que, por meio de um diálogo franco e igualitário, possa ajudar  seu aluno a tornar-se um cidadão, na mais plena acepção  da palavra.

4. PALAVRAS FINAIS

            Assim como afirma Rios em seu livro  Ética e competência (2003), a escola tem um grande poder nas mãos, ou seja,  o de formar o indivíduo para a vida, transformar a sociedade, consequentemente, torná-la mais justa. Entre as muitas prerrogativas do educador está, além da construção conhecimentos utilitários e intelectuais, a  preparação do cidadão para conviver com os outros.
            Percebi, ao redigir esse artigo, que a responsabilidade de formar cidadãos eticamente conscientes é uma tarefa urgente e não nos permite adiamentos. Não devemos dessa tarefa – ou simplesmente ignorá-la. Precisamos, como educadores, aceitar o desafio, sem pensar no grau de dificuldade que ele apresenta.  Não podemos e nem devemos cruzar os braços; temo de dar a cota de trabalho na formação de cidadãos aptos  para um convívio social mais harmônico e produtivo. E para fechar estas linhas, retomo o que escrevi no início: a infância é  o alicerce da vida e o adulto é produto daquilo que vivencia e  aprende também nos seus primeiros anos de

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Lei de Diretrizes e Bases da Educação-LDB. Brasília, DF, 1996.
KRAMER, Sônia. A infância e sua singularidade. In: Ensino Fundamental de nove anos, 2. Ed. Brasília: MEC, 2007.
LA TAILLE, Yves de. Limites: três dimensões educacionais. São Paulo: Ática, 1998
LIBERAL, Márcia Mello Costa de. Um olhar sobre ética e cidadania. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2002.
RIOS, Terezinha Azerêdo. Ética e competência. São Paulo: Cortez, 2003.

*  Lilian Fernandes Negreiros é aluna do curso de Pedagogia da Faculdade de Arujá