OS
CONTOS DE FADAS E A LEITURA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL I
* Tábata Ferreira de Andrade Matos
1.
PONTO
DE PARTIDA
Em uma sociedade que está em
constante mudança, a leitura ocupa um papel primordial para que os cidadãos
possam participar de maneira plena no processo de socialização. Como sabemos,
comunicamo-nos por meio de textos e saber quando e para que utilizar
determinado gênero textual é fundamental em nosso cotidiano.
Nas séries iniciais, isso deve ser
um dos objetivos dos professores; ou seja, levar o aluno a tornar-se um leitor
competente, capaz não apenas de decodificar o código linguístico, mas também de
interpretar e compreender o que está sendo lido.
Para tal tarefa, é necessário que os
docentes utilizem textos, de preferência, já conhecidos dos alunos..Entre os textos
que mais agradam às crianças estão os contos de fadas, gênero textual que, por
meio do fantástico e da imaginação, consegue atrair a atenção do aluno; que
utilizando temáticas que fazem parte da vida do ser humano (sonhos, medos,
carência afetiva, etc.) o ajuda a entender e superar os seus problemas e
curiosidades.
Utilizar os contos de fadas como
incentivo à leitura pode ser uma maneira de ajudar os nossos alunos a se
tornarem, no futuro, leitores capazes de agir criticamente, competência indispensável
para que todo cidadão colabore no aprimoramento da sociedade em que vive..
2. ORIGENS DA LITERATURA INFANTIL
A literatura infantil vai surgir na literatura indo-europeia (século V a. c), que
se caracterizava pela apresentação de elementos fantásticos. As obras mais
relevantes desse período foram Calila e Dimna e Sendebar.
Séculos mais tarde, essa literatura influenciou, na Idade
Média, a literatura popular europeia (novela de cavalaria); esta, por sua vez, foi
fonte inspiradora da literatura Infantil
no século XVII. Nesse século, autores como Charles Perrault (1628-1703), Jean
de La Fontaine (1621-1695) dão início a uma literatura específica para as
crianças, que, até então, compartilhavam as mesmas leituras dos adultos.
A produção literária infantil dessa época tinha como
objetivo educar. Por outras palavras apresentava um propósito moralizador,
mostrando à criança como se comportar; principalmente com a leitura dos contos
de fadas, produzidos por Charles Perrault.
Com a Revolução Industrial, a literatura Infantil, além instrumento
pedagógico, passou a ser considerada
como um produto a ser comercializado. A partir daí, surgiram grandes
autores, que foram aclamados pelo público infantil do mundo todo. Entre eles, podemos citar Daniel Defoe (1660-1731),
autor de Robinson Crusoé (1719).
O que mais impressiona os estudiosos nesta área da
literatura é que a maioria das obras que hoje são consideradas literatura
Infantil foram escritas, na verdade, para adultos, mas que acabaram sendo lidas
mais pelo público infanto-juvenil.
Daniel Defoe, por exemplo, escreveu suas obras como uma crítica à
sociedade consumista de sua época e como valorização da natureza; porém, por algum motivo ainda não compreendido, os
livros do escritor londrino vieram a se transformar em leitura infanto-juvenil.
No período do Romantismo (século XIX), surgiram os contos
dos irmãos Jacob Grimm (1785-1863) e Wilheim Grimm (1786-1859), mais conhecidos
apenas como os irmãos Grimm. Eles tinham como objetivo fazer um levantamento
linguístico do povo germânico, baseando-se na literatura popular. No entanto, a
coletânea de contos reunidos que os irmãos Grimm publicaram logo depois veio a
se tornar os contos de fadas lidos pelas crianças até os dias de hoje. Entre os
contos mais conhecidos estão: A Bela
Adormecida, Chapeuzinho Vermelho, Os Sete Anões e a Branca de Neve, O Pequeno
Polegar e A Gata Borralheira.
No Brasil, a literatura Infantil foi assumir
características de nossa cultura apenas no período do Pré-Modernismo, com a
obra As Reinações de Narizinho, de
Monteiro Lobato (1882-1948). O autor utiliza em seu livro elementos do
regionalismo e do folclore brasileiros. Antes disso, a literatura Infantil no
Brasil se resumia em traduções de obras europeias.
3.
OS CONTOS DE FADAS
Os contos de fadas se destacaram em meio à literatura
Infantil e ganharam pequenos leitores do mundo todo, principalmente porque
possuem uma estrutura simples, com personagens que ou eram boas ou más e que, até os dias de hoje, levam as
crianças a entenderem a si mesmas.
Esse gênero
textual possui como função a solução de conflitos das personagens. Quase todo
conto de fadas apresenta um problema, cuja solução exige o enfrentamento do
protagonista..
Os conflitos que constituem o enredo dos contos de fadas
prendem a atenção da criança. Esta acaba identificando-se com as personagens.
Pode acontecer também que, a cada leitura de um mesmo conto, a criança
tenha reações diferentes, dependendo muito do seu momento existencial:
manifestação de dúvida, carência, curiosidade, etc
Há casos em que os pais sentem certo desconforto ao lerem
contos de fadas para seus filhos, pois imaginam que os petizes não estão preparados
para determinados finais, que encerram tristeza, morte, etc. A criança não deve,
contudo, ser privada de conhecer e
entender esses fatos disfóricos, que fazem parte da existência humana.
4. OS CONTOS DE FADAS NAS SÉRIES INICIAIS
Em sala de aula, os contos de fadas podem e devem ser
utilizado como uma forma de atrair a atenção dos alunos das séries iniciais,
pois, como lembra Martins (1989), a
criança lê primeiramente por curiosidade e os contos de fadas são textos que,
como já dissemos, possuem elementos capazes de levar os alunos dessas séries a
adquirir o gosto pela leitura. Todavia,
para que isso seja possível, é preciso que os docentes respeitem as
individualidades de seus alunos e explorem os contos de fadas de um modo que
venham realmente despertar o interesse e a expectativa de cada criança.
5. EM SÍNTESE
Acreditamos que os contos de fadas podem ser uma maneira
de estimular o gosto pela leitura nas séries iniciais. Se trabalhados
adequadamente, os contos de fadas não só despertam nas crianças o gosto pela
leitura, mas também propiciam condições para a formação de cidadãos críticos e
participantes, que, insofismavelmente, auxiliarão – e muito – no processo de
aprimoramento da sociedade.
REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH,
Fanny. Se maravilhando com os contos de fadas. In: Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo:
Scipione,1991.
BETTELHEIM,
Bruno. A psicanálise dos contos de fadas.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
COLOMER,
Teresa e CAMPS, Anna. Ensinar a ler,
ensinar a compreender. Porto Alegre: Artmed, 2002.
DIECKMANN,
Hans. Contos de fadas vividos. São Paulo: Paulinas, 1986.
MARTINS,
Maria Helena. O que é leitura. 11
ed. São Paulo: Brasiliense: 1989.
* Tábata
Ferreira de Andrade Matos é aluna do Curso de Pedagogia da Faculdade de Arujá –
FAR.