terça-feira, 19 de abril de 2011

A MULHER E SUA TRAJETÓRIA HISTÓRICA


            De  Priscila Heico Ishikawa *

As desigualdades sociais existem no mundo há milhares de anos, desde os tempos mais remotos, em que prevalecia a lei do mais forte e dos detentores do poder.
Entre homens e mulheres não foi - e não é diferente - os preconceitos, as desigualdades salariais, tudo envolve certa desigualdade entre os sexos. Nos diversos contextos históricos ao longo do tempo, aconteceram fatos significativos -como, por exemplo, a Revolução Industrial, as Guerras Mundiais, a Revolução Tecnológica. Esses fatos provocaram alterações nos modos de viver, na interação social, no trabalho, enfim, em todos os aspectos da vida humana.
Os tempos atuais experimentam mudanças das mais variadas ordens. Nessas mudanças,  a mulher tem dado sua participação de forma cada vez mais efetiva. As mulheres estão conquistando cada vez mais seu espaço no mercado de trabalho, nas grandes empresas e, muitas vezes, são chefes de família.
Mas se, hoje, esse é o quadro, uma pergunta se impõe: ao longo da História terá havido uma sociedade igualitária, em que todos, homens e mulheres, desfrutassem dos mesmos  bens e das mesmas oportunidades na vida social?
As evidências históricas mostram que, desde os primórdios, a cultura humana esteve sempre intimamente ligada a ideia de distinção e de discriminação entre grupos sociais.
Na realidade em que vivemos, diante das desigualdades sociais, evidencia-se o desejo de mudanças contínuas, relativas às desigualdades socialmente estabelecidas entre homens, mulheres, negros e brancos, dimensionando-se por gênero e raça.
Para entendermos um pouco do que se passa no mundo contemporâneo, devemos levar em consideração alguns aspectos históricos que foram muito significativos.
Um dos aspectos que deram espaço para a avanço no mercado de trabalho foi a Revolução Industrial, que aconteceu no século XVIII, na Inglaterra, quando se antecipou o que seria o século XIX, com sua produção desenfreada, que não poupava mulheres, nem crianças, com o intuito ganancioso de se produzir cada vez mais.
É a época das ferrovias - em que se aumenta a facilidade das comunicações - e dos barcos a vapor - que substituíram os grandes veleiros; época também dos grandes artefatos mecânicos. Com a Revolução Industrial, tem-se a transição do sistema doméstico, artesanal, de trabalho à maquinofatura.
Dessa forma, de que modo considerar como trabalho somente a produção de bens econômicos? O que acontece com as mulheres, salvo as operárias, que não trabalham?
Em outros momentos históricos, as mulheres trabalhavam, por exemplo, no campo. Já na família camponesa, não havia divisões marcantes: todos trabalhavam de uma maneira variada e desigual. Trabalhava-se no campo e na casa. Podia-se trabalhar colhendo azeitonas; ou debulhando e assando para que aqueles que estavam arando ou ceifando comessem; ou limpando a casa, partindo a lenha, lavando a roupa, preparando a massa.
A Revolução produz uma mudança profunda. Quando a oficina familiar desaparece, o operário vai trabalhar em uma oficina coletiva, e a mulher fica em casa; ou vai trabalhar como um operário a mais, “como um homem”.
Dessa forma, ao longo dos contextos históricos, percebemos que o trabalho da mulher, seja ele realizado em fábricas, com o advento da Revolução Industrial, ou em casa, na sua jornada diária e rotineira de trabalho, não se resumia somente no “ato de trabalhar em si”, mas também envolvia outro contexto. As mulheres que gozavam de uma situação econômica e social privilegiada (que eram pouquíssimas, por certo, e constituíam a nata da sociedade) tinham em troca uma série de obrigações, trabalhos e deveres sociais. Os deveres sociais são outro tipo de trabalho também penoso, fatigante.
Dentro da história feminina, ao longo do tempo, e das desigualdades vivenciadas, pergunta-se: “O que podia ser uma mulher na Espanha, na segunda metade do século XIX?” Havia tão pouquíssimas possibilidades, que se podem enumerar. Podia ser minoritariamente uma “grande dama” (que não contava como uma profissão, mas na realidade o era, de difícil aprendizado, com complicados saberes e deveres), ama de leite, professora de escola, costureira, criada doméstica, cabeleireira, lavadeira, prostituta, e – finalmente só uma - rainha.
Dessa forma, colocamo-nos a pensar sobre alguns aspectos que, na atualidade, envolvem o cotidiano das mulheres: a) a grande maioria delas, além de trabalhar fora de casa, tem de arcar com os afazeres domésticos; b) quase sempre seu trabalho não tem uma valorização justa, ou seja, a mulher desempenha os mesmos papéis desempenhados pelos homens e recebem, contudo, uma remuneração menor. Na verdade, a mulher desempenha, na vida cotidiana, várias tarefas: é profissional, é dona de casa, é, às vezes, estudante; sem abdicar de sua feminilidade, de suas vaidades.
Uma outra questão também muito delicada e que vale ressaltar é a questão de a mulher poder exprimir o seu ponto de vista e sua maneira de pensar. No século XIX, a mulher começa a sentir o desejo de participar de diversas atividades, entre as quais, a atividade política, que até então era exercida somente pelos homens.
Ao estabelecer-se a democracia na Europa e na América, apenas alguns homens votavam os homens - em nome dos demais homens, dos filhos, das mulheres, etc..
Essa situação, parece-nos, não justificar-se. Não poderia a mulher ter suas opiniões particulares? Não poderia ela votar em quem quisesse?  A verdade é que, com o passar do tempo, a mulher adquire o direito de votar. No Brasil, por exemplo, esse direito foi reconhecido pela Constituição de 1934.
 É curioso que, politicamente, no século XX, se acentuou a diferença entre os sexos. A emancipação também é outro tema a ser considerado. No Direito Romano, a mulher estava equiparada aos filhos. A autoridade do “pater famíliae” (pai de família), era total, absoluta, e exercia-se igualmente sobre a mulher e os filhos, pelo menos na maioria dos matrimônios. Ao longo de quase toda a história, a mulher dependeu, primeiro do pai e depois do marido.
Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, na política e na economia, a antiga imagem da sociedade tradicional, com a mulher no seu papel, de esposa, mãe, administradora do lar, educadora dos filhos, foi destruída e a discriminação ficou mais clara, visto que não se parece como as funções para as quais a mulher foi destinada, devido as suas características biológicas.
Com isso, podemos analisar como, ao longo do tempo, a mulher vem conquistando seu espaço, que não se restringe mais somente a cuidar da família. Mesmo assim ainda há discriminação social; continua-se a insistir que lugar de mulher é em casa, cuidando dos afazeres domésticos e familiares.
Nas décadas de 80 e 90 do século passado, a entrada da mulher no mercado de trabalho ampliou-se grandemente. Percebeu-se, contudo, que, embora a mulher passasse a fazer os mesmos trabalhos feitos pelos homens, estes recebiam uma remuneração bem maior do que a remuneração recebida pelas mulheres.
Constatou-se que as mulheres menos escolarizadas foram as que menos cresceram no mercado de trabalho. O número de mulheres chefes de família aumentou extraordinariamente. Pergunta-se, então, se na sociedade contemporânea, em que a mulher trabalha de maneira igualitária aos homens, e, muitas vezes, com um grau de instrução muito acima, por que essa diferença salarial?
As mulheres contemporâneas, muitas vezes, têm uma qualificação profissional superior à de muitos homens. Então por que, em pleno século XXI, em plena era tecnológica e da comunicação virtual, a mulher recebe um tratamento tão desigual, como acontecia no passado? Ainda temos que lidar com um tema que tem antecedentes históricos remotos.
Com todas as mudanças que ocorreram na história, e mesmo ainda com algumas desvantagens com relação aos homens, as mulheres conseguiram, e conseguem, ao longo do tempo, se destacar pouco a pouco. Conseguem mostrar que são capazes, tanto quanto os homens, e que não cabe só a elas o dever de cuidar da família e dos filhos e que seus sonhos e seus desejos devem ser preservados e, principalmente, realizados.
A mulher moderna trabalha, estuda, cuida da sua casa, da sua família e de si mesma. Garantiu o direito ao voto e, na maioria das vezes, contribui significativamente no orçamento familiar.
Todas essas conquistas, que venceram barreiras culturais, econômicas e sociais, estão se concretizando ao longo do tempo. Somos sabedoras de que muitas lutas ainda estão por vir; mas os primeiros passos já formam dados. Cabe então às mulheres mostrarem que não são o “sexo frágil”; que muitos direitos ainda serão conquistados e que a mudança está em processo.

REFERÊNCIAS

CARMO, Paulo Sérgio do. Sociologia e sociedade pós- industrial: uma introdução São Paulo: Paulus, 1999.
_____. O trabalho na economia global. São Paulo: Moderna, 1999.
COSTA, Cristina. Sociologia contemporânea. 2. ed. São Paulo, Moderna, 2000
KENSKI, Vani Moreira. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação, Campinas. Papirus, 2007.
MARIAS, Julián, A mulher no século XX, São Paulo.  Convívio, 1981
NOÉ, Alberto; BALASSIANO, Ana Luiza. A educação e as desigualdades sociais. Disponível em http://www.antroposmoderno.com/antro-articulo.php?id_articulo=242. Acesso em 05/09/2010.
TEIXEIRA, Zuleide Araújo. As mulheres e o mercado de trabalho. Disponível em http://www.universia.com.br/universitario/materia.jsp?materia=3010. Acesso em 27/09/2010.

* Priscila Heico Ishikawa é aluna do curso de Pedagogia da Faculdade de Arujá- FAR

Um comentário:

  1. Parabéns pelo artigo.
    Realmente em pleno avanço tecnológico, ainda encontramos muita desigualdade, não só no sexo, mas em várias partes da vida, enquanto o ser humano não deixar de pensar uno,engatinharemos degrau por degrau na igualdade global. Toda mudança depende exclusivamente de nossos atos, onde cada um, deve exercitar a consciência e sua atitude perante o próximo. !!!!

    att: Veno Mauricio
    Especialista em Arte Educação

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