segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

OS VALORES MORAIS E ÉTICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Lilian Fernandes Negreiros *

1. PALAVRAS INICIAIS
Trabalhar valores éticos e morais na Educação Infantil é, indubitavelmente, de suma importância, uma vez que  a infância é  o alicerce da vida e o adulto é produto daquilo que vivencia e  aprende, também, nos seus primeiros anos de escola.
Embora isso soe como inconteste, só veio aclarar-se, para mim, em decorrência das observações diárias durante o estágio que fiz em uma de nossas EMEIs. Nessa escola, constatei que havia, entre  alunos conflitos de espécies várias: agressões verbais e físicas, desrespeito para com os colegas e para com os próprios educadores, etc. Os professores, por sua vez, não faziam as intervenções de maneira correta, levando os alunos a comportamentos inadequados.
Diante de tal situação, tornei-me, num primeiro momento, indignada. Mas depois passei a pensar numa solução para o problema, numa maneira de mudar aquele quadro que tomava conta do cotidiano daquela escola e, parece-me, de outras instituições similares.
Como agir para debelar o mal?  Observei que valores como: moral, ética, cooperação, honestidade, solidariedade, gentileza, respeito, entre outros – valores os quais são fundamentais para a convivência social  - não eram trabalhados com aqueles alunos. Isso me levou a pensar num projeto -  “O resgate de valores humanos”  - e aplicá-lo aos educandos da EMEI em que eu estagiava.
A minha ação justifica-se tendo em vista que o desenvolvimento comportamental tem início na infância. Por isso, faz-se necessário um  trabalho docente que enfatize a construção de valores morais e éticos nos degraus iniciais da escada educacional. Atualmente, estamos passando por uma crise de valores, em que as pessoas  se mostram frias e alheias às necessidades de seus semelhantes. Tal crise faz-nos repensar o tipo de cidadão que estamos formando;  faz-nos pensar se estamos dando a devida importância à formação integral do educando ou se estamos preocupados apenas  com a construção de conhecimentos prático-utilitários.
Há necessidade de revermos a prática docente dos profissionais de Educação Infantil, pelo fato de nos encontrarmos num momento de desestabilização dos valores humanos, valores estes sem os quais é impossível viver bem em sociedade. A escola está mais preocupada em ensinar o abc para seus alunos. Embora isso se faça necessário, é preciso, contudo, que a instituição escolar se preocupe também com aspectos de caráter humano e social, que trate seu aluno como um ser integral.
É preciso que nossas escolas ensinem valores humanos, como cortesia, compaixão, generosidade, doçura, lealdade, respeito, etc. A ausência desses valores acarreta indisciplina e falta de educação. La Taille (1998) afirma que “(...) Se as escolas não têm educação moral e ética no seu currículo diário, ela - a escola - não deve reclamar da indisciplina de seus alunos (...)”
Os profissionais de Educação Infantil devem se preocupar com a formação integral de seus alunos, não somente com o desenvolvimento cognitivo e intelectual, pois é na faixa etária que vai dos 3 aos 6 anos que as crianças começam a construir sua identidade. Então é fundamental a abordagem de assuntos relacionados aos valores humanos, para a construção de indivíduos mais “humanos” e, consequentemente, uma sociedade mais justa.
Segundo Rios (2003, p. 40), os saberes necessários para o convívio e a inserção de maneira agradável na sociedade se dão através de saberes adquiridos na escola. Afirma a autora que  
(...) A instituição escolar tem como função especifica a influência do ensinar e, à medida que se destina a ensinar, a convencer os sujeitos, transmitindo-lhes os saberes necessários para direcionar sua inserção na sociedade.



2.  POR QUE ENFATIZAR OS VALORES MORAIS E ÉTICOS A PARTIR DA EDUCAÇÃO INFANTIL?
Antes de responder essa questão, conceituarei os termos Moral, Ética e Educação Infantil.
Segundo La Taille (1998), Moral é o conjunto de deveres derivados da necessidade de respeitar as pessoas, nos seus direitos e na sua dignidade. Ética é a reflexão sobre a felicidade e sua busca, a procura de uma vida significativa, uma “boa vida”.
Segundo a LDB 9394/96, no artigo 29, Educação Infantil é a primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até cinco anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.
Seguindo preceitos da LDB 9394/96, é atribuição dos profissionais de Educação Infantil trabalhar o aluno como um todo - e não como um ser fragmentado -  em parceria com a família.  Todavia, em nossa realidade, essa parceria acaba dificultada, uma vez que o aluno passa a maior parte do tempo na escola. Então, cabe à instituição escolar suprir essa carência.
O fato de nascermos não nos torna um cidadão. A construção do cidadão e da cidadania se dá se maneira paulatina. Nosso primeiro contato é o familiar, quando, geralmente, alguns ensinamentos nos são passados. Posteriormente, o individuo é inserido em um ambiente novo – a escola - ,onde encontra  outros indivíduos, com opiniões e vontades diferentes. Dessa forma, a escola não deve se prender somente à construção do conhecimento de conteúdos, e sim levar o aluno à reflexão e a descoberta de valores que são necessários à vida humana. Essa preocupação em formar um aluno provido de valores humanos não se restringe à atualidade. Comenius (apud Liberal, 2002, p.145)  afirmava que o papel da escola era:

Formar homens sábios na mente, prudentes nas ações e piedosos no coração; apoiada nos pilares da inteligência, memória e vontade, a formação dos homens deve abarcar, particularmente no trato com a juventude, a instrução, a virtude e a piedade

            A escola de Educação Infantil tem de centrar seu trabalho no desenvolvimento da autonomia de seus alunos; o educador tem de intervir e explicar, de modo claro e objetivo, as normas e os princípios que balizam as relações sociais e não somente falar sobre o que deve – ou não deve - ser feito            Segundo La Taille (op.cit.), os valores morais e éticos que norteiam o comportamento do  indivíduo precisam ficar claros, não podem ser confusos ou inexistentes. Através dos valores adquiridos na infância é que se forma um individuo atuante e produtivo para a sociedade.
            A importância de trabalharmos valores humanos a partir da Educação Infantil é projetar uma sociedade mais justa e igualitária, sem grandes conflitos. O trabalho com valores humanos não se dá por força e nem por violência e sim através da ludicidade, rodas de conversas diárias, e em todos os momentos em que forem necessárias as intervenções do educador.

3. O EDUCADOR E A FORMAÇÃO INTEGRAL DO ALUNO

            Iniciamos esta seção indagando-nos sobre algumas questões bem pertinentes. O que estamos fazendo com a infância de nossos alunos, que estão se tornando adultos mal educados?  Que tipo de contribuição estamos oferecendo para a construção do mundo de valores dos nossos alunos?  De quem é a culpa de a nossa sociedade estar cada dia mais violenta e cruel?
            Para respondermos a essas questões, recorremos a Rios (2003, p. 37), que afirma que: “... a escola seria o melhor dos remédios contra os males da sociedade...” A autora acredita que, se tivermos uma escola boa, alcançaremos, consequentemente, a sociedade desejada, ou seja, uma sociedade mais humana.
            Queiramos ou não, a escola intervém nos rumos da sociedade, e é também continuamente influenciada pelo que ocorre fora dos limites escolares, pois a escola é o  reflexo da sociedade. De acordo Rios (id., ibid.) a escola:

(...) está sempre posicionada no âmbito da correlação de forças da sociedade em que se insere e, portanto, está sempre servindo às forças que lutam para perpetuar e/ou transformar a sociedade.

             
            Como já foi dito, a função do educador ultrapassa os limites da mera transmissão de conhecimentos; deve esse profissional considerar o educando como um ser humano em toda a sua plenitude. Deve estar atento a cada etapa do processo educacional para que, por meio de um diálogo franco e igualitário, possa ajudar  seu aluno a tornar-se um cidadão, na mais plena acepção  da palavra.

4. PALAVRAS FINAIS

            Assim como afirma Rios em seu livro  Ética e competência (2003), a escola tem um grande poder nas mãos, ou seja,  o de formar o indivíduo para a vida, transformar a sociedade, consequentemente, torná-la mais justa. Entre as muitas prerrogativas do educador está, além da construção conhecimentos utilitários e intelectuais, a  preparação do cidadão para conviver com os outros.
            Percebi, ao redigir esse artigo, que a responsabilidade de formar cidadãos eticamente conscientes é uma tarefa urgente e não nos permite adiamentos. Não devemos dessa tarefa – ou simplesmente ignorá-la. Precisamos, como educadores, aceitar o desafio, sem pensar no grau de dificuldade que ele apresenta.  Não podemos e nem devemos cruzar os braços; temo de dar a cota de trabalho na formação de cidadãos aptos  para um convívio social mais harmônico e produtivo. E para fechar estas linhas, retomo o que escrevi no início: a infância é  o alicerce da vida e o adulto é produto daquilo que vivencia e  aprende também nos seus primeiros anos de

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Lei de Diretrizes e Bases da Educação-LDB. Brasília, DF, 1996.
KRAMER, Sônia. A infância e sua singularidade. In: Ensino Fundamental de nove anos, 2. Ed. Brasília: MEC, 2007.
LA TAILLE, Yves de. Limites: três dimensões educacionais. São Paulo: Ática, 1998
LIBERAL, Márcia Mello Costa de. Um olhar sobre ética e cidadania. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2002.
RIOS, Terezinha Azerêdo. Ética e competência. São Paulo: Cortez, 2003.

*  Lilian Fernandes Negreiros é aluna do curso de Pedagogia da Faculdade de Arujá

15 comentários:

  1. Concordo parcialmente com a seguinte afirmação:[...]a escola seria o melhor dos remédios contra os males da sociedade...” A autora acredita que, se tivermos uma escola boa, alcançaremos, consequentemente, a sociedade desejada, ou seja, uma sociedade mais humana.

    Primeiro: O melhor remédio é carinho, amor, atenção e educação dos pais.A função da escola é transmitir cultura e conhecimentos e fortalecer os valores morais que se trás de casa.

    Segundo:O que falar da genética que as crianças herdam e da influencias que recebem no ambiente que vivem. Para alcançarmos uma sociedade humana ou desejada é necessário a educação do pais e um ensino que envolva toda a vida da criança. Portanto, a responsabilidade não é só da escola.

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    1. corrigindo, a escola não e espaço para transmitir conhecimento, e sim construí, pois esse transmitir com o tempo os alunos esquece e o que ele construir dentro do ambiente escolar e para a vida toda, por este motivo pais e escola tem que caminha juntos.

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  2. concordo com o comentário acima, recebo crianças de 4 anos que já vem sem nenhuma noção de educação mínima de suas casas, nem por favor, obrigada, fazem parte de seu vocabulário. assim perderam-se 4 anos fundamentais para a formação ética e moral da criança, criando vícios e atitudes muito profundas e reforçadas diariamente por seus pais. eu aprendi esses valores em casa e os utilizo na vida social ate hoje, não temos a pretensão de ter alunos pedagogicamente corretos, com prontidão para a aprendizagem, mas ao menos com o básico da educação social aceitável.

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  3. esses educadores acima talvez não saibam nem o significado da palavra educação substituindo por instrução, o sistema de ensino no brasil e o modelo economico fizeram uma lavagem cerebral ,alienando a escola e os professores ,uma escola que não tenha como centro o amor pedagógico e o cultivo de valores humanos não é uma escola e um centro de treinamento,uma fabrica ou qualquer coisa desse tipo ,desculpem a acidez.
    fiquem em paz...

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    1. Meu caro anônimo, infelizmente pessoas que pensam como você, contribuem para um ensino de má qualidade, pois é fácil jogar a culpa nos profissionais da educação, a lambança que começa de casa. Entretanto, EDUCAÇÃO, vem de berço, e não é a escola ou os professores que consertarão essa caca toda.

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  4. Muito Bom. Aos ignorantes que pensam que educação de valores se encontram somente em casa por isso e com pessoas com esse tipo de pensamento a nossa educação esta precária.

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  5. A REALIDADE DE NOSSO PAÍS É UM FATO, MAS NÃO PODEMOS ACEITÁ-LA COMO FATALIDADE E CONSIDERARMOS IRREVERSÍVEL, O PROFESSOR DEVE SER TRANSFORMADOR, NÃO IMPORTA O QUE O ALUNO APRENDEU EM CASA OU NÃO APRENDEU, ENQUANTO ELE ESTIVER COM UM EDUCADOR DE VERDADE ELE TERÁ OPORTUNIDADE DE VER QUAL O CAMINHO CERTO, NÃO PODEMOS ACREDITAR Q TRANSFORMAREMOS A SOCIEDADE,NÃO VAMOS, MAS DEVEMOS ACREDITAR Q MUITOS SE TORNARÃO VERDADEIROS CIDADÃOS AO PASSAR NAS MÃOS DE UM VERDADEIRO EDUCADOR.

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  6. sou professora de Educação Infantil e sempre me preocupei em passar para meus pequeninos alunos valores como respeito, amizade.Hoje fui chamada na diretoria e me chamaram a atenção por ensinar aos meus alunos não gostarem de "funk".uma aluna minha perguntou-me se podia cantar prepara da Anita e eu falei que não pois a música além de despertar a sexualidade precoce das crianças não fala nada de bom.Não somente as delas mas este tipo horrível de música.Conclusão: fui criticada duramente pelos meus superiores!

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    1. É claro que isto não se tornou um obstáculo.Pois vejo mais ainda que meus queridos alunos precisam de mim para conduz´-los não somente no caminho do conhecimento mas também no caminho do amor e da virtude!

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  7. Adorei as informacoes que estao neste blogue e concordo plenamente com a seguinte afirmacao ''o adulto e o resultado da vivencia da infancia'' eu consegui me auto-discubrir que o que sou hoje e por causa de tudo que passei na infancia.

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  8. MUITO BOAS AS INFORMAÇÕES, AS CRÍTICAS DEIXA PARA OS BABACAS

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  9. ADOREI A REFLEXÃO. EXCELENTE, PARABÉNS!

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  10. É fundamental trabalhar com o desenvolvimento moral com as crianças já na educação infantil, pois elas serão os adultos de amanhã e de acordo com a base desenvolvida “hoje”, conseqüentemente na vida adulta irão escolher como agir e pensar, levando-se em conta a moral.

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